Que fim levou a honestidade intelectual?

João Camilo de Oliveira Torres (1915-1973) poderia, ainda que superficialmente, pois homem algum é uma coisa só, ser definido como uma daquelas raras e profundas inteligências. Aliado ao pensamento conservador brasileiro, o mineiro de traços monarquistas era também um católico influenciado por mestres da escolástica. Foi sem dúvida um grande intelectual, queira ou não queira parte da esquerda contemporânea.

Lendo algumas páginas de sua “Interpretação da realidade brasileira” (1969), não pude deixar de perceber que o autor, ao analisar certas vicissitudes na formação do Brasil, mais de uma vez faz menções elogiosas ao trabalho historiográfico e sociológico desenvolvido por Caio Prado Jr. (1907-1990), um autor de opiniões tão distintas das suas e associado ao pensamento marxista, mas inegavelmente um intelectual de peso em nosso país, queira ou não queira parte da direita contemporânea.

A meu ver, esse pequeno detalhe tornou João Camilo ainda maior. Colocar-se honestamente diante daquilo que já foi produzido em matéria intelectual, ainda que por um opositor no campo das ideias, seja para concordar, discordar, superar ou aprimorar, é a marca dos grandes.

Enquanto isso, o desprezo imediato, superficial e irrefletido por tudo aquilo que nos soa contrário é a marca da insensatez ou mesmo da imaturidade.

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