A paciência no progresso intelectual

A paciência é uma virtude (Suma Teológica, II-IIae, q. 136) e precisamos dela para um verdadeiro progresso intelectual. “Obter sem pagar é o desejo universal; mas é um desejo de corações covardes e de cérebros enfermos“, alertava-nos A.D. Sertillanges. Se o óbvio também precisa ser dito, devemos alertar para a necessidade de nos libertarmos de nosso vício na informação rápida.

Sobre esse tema, havia um professor que sempre falava sobre a importância de rastrear a origem das próprias ideias. E funciona. Se alguém faz uma afirmação e questionamos “de onde você tirou isto?“, envergonhada em dizer que não sabe ou que foi de “ouvir falar”, a provável resposta será uma esquiva qualquer – e não uma citação fidedigna da fonte cuja informação provém. Esse fenômeno pode acontecer por vários motivos, dentre eles, a ausência de espírito investigativo e de paciência na aquisição de conhecimento.

Atualmente, sabemos que, ao desejar compreender um assunto, a primeira atitude geralmente é pesquisar um resumo na internet ou assistir a um vídeo curto. É quase inconcebível que a pessoa compre um livro, faça a leitura, realize suas anotações, medite sobre o conteúdo estudado, compare com outras fontes para, a partir daí, formular um juízo. Isso levaria semanas, talvez meses. Mas não temos tempo para fazer como antes.

O resultado catastrófico dessa forma de pensar e agir, típica de nossos dias, tem se revelado já a curto prazo. Em quase todo lugar, ao conversarmos sobre os mais variados assuntos, o que percebemos é a proliferação dos palpites – e não uma posição refletida sobre um ponto qualquer. Numa roda de conversa, escuta-se uma enfática crítica ao nome de um autor. Porém, ao ser questionado de qual parte daquela obra o interlocutor discorda, começam as confusões e justificativas fora de contexto. Esse é um nítido sinal de que a pessoa não quis pagar o preço de algumas leituras antes de proferir seu julgamento.

Com isso, não quero dizer que todos precisam ler volumes e mais volumes a respeito de todos os temas sobre os quais nutre interesse. Seria um exagero pedante. Contudo, se nosso conhecimento sobre determinado assunto vai até um certo limite, a partir daí, precisamos adotar uma postura de aprendizes, abertos às possíveis críticas e complementos de nossas ideias. Se nunca fiz uma leitura básica a respeito de economia, não serei eu quem conduzirá as projeções econômicas do país na roda de conversa, embora possa perfeitamente questionar os meus colegas sobre os fundamentos de suas conclusões, ou até mesmo adotar uma postura cética em relação a elas, buscando, depois, outras fontes e posicionamentos.

As “regras de etiqueta” da intelectualidade não são complicadas. É preciso coragem para refletir e se manifestar, sempre com sinceridade, a respeito dos variados elementos que nos cercam diariamente. Essa é uma tarefa digna de louvores e que deve ser incentivada.

Entretanto, é necessário cortar os atalhos, pois não chegaremos longe com as miudezas que aprendemos nas caóticas redes sociais e nos textos excessivamente resumidos. Ao se interessar por um tema, busque conversar com professores, amigos ou colegas mais experientes naquele assunto, pedir indicação de bons livros e aceitar o tempo que cada coisa nos custa. O conhecimento adquirido facilmente, ou seja, de forma simplista ou superficial, deve ser visto sempre com suspeita.

Compartilhar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *