José Guilherme Merquior: um gênio brasileiro.

José Guilherme Merquior (1941–1991) foi, sem dúvida, uma das mais valiosas descobertas que fiz neste ano, em grande parte graças à indicação de meu estimado amigo Rodrigo Camillotto, com quem tive o privilégio de dialogar sobre a biografia e as ideias desse notável intelectual. Embora sua obra tenha sido reeditada pela “É Realizações” há alguns anos, o fato é que Merquior permaneceu obscurecido do grande público por várias décadas e, ainda hoje, é raramente mencionado nos círculos acadêmicos e culturais.

O intelectual carioca destacou-se como diplomata, filósofo, sociólogo, ensaísta, crítico literário e de arte, além de cientista político. Sua produção bibliográfica, que cobre uma vasta gama de temas, é assombrosa, ainda mais quando consideramos sua partida precoce, aos 49 anos. Até o momento, concentrei-me em seus escritos literários. Infelizmente, algumas de suas obras são encontradas apenas em sebos.

Merquior possuía uma formação intelectual das mais robustas de nosso país, mas, paradoxalmente, sua presença nos bancos da academia contemporânea é quase inexistente. Uma possível explicação para tal apagamento pode residir nas críticas incisivas que dirigiu ao marxismo nos anos 1980 e início da década de 1990.

Todavia, se esse for o caso, discordo de tal postura por duas razões principais, para além da óbvia ausência de bom senso. Em primeiro lugar, Merquior se autodefinia como um “anarquista cultural”, posicionando-se além dos limites estreitos das ideologias presentes aqui e ali. Em segundo lugar, porque foi amplamente reconhecido e elogiado por diversos pensadores de sua época, muitos deles alinhados às correntes da própria esquerda.

Eduardo Portella, não à toa, descreveu-o como uma “máquina de pensar”. O filósofo e sociólogo francês Raymond Aron, ao conhecê-lo, questionou: “Quem é esse jovem que leu tudo?“. Já Claude Lévi-Strauss, de quem Merquior foi aluno, declarou enxergar nele “um dos espíritos mais vivos e bem informados” de seu tempo. É assombroso que tamanho reconhecimento internacional encontre tão pouco eco em nosso país. Contradições inexplicáveis da cultura brasileira.

O contato com sua escrita e com sua admirável erudição trouxe um misto de fascínio e arrependimento, por ter ignorado sua existência durante tanto tempo. Resta, agora, recuperar o tempo perdido e torcer para que outros grandes nomes de nossa intelectualidade nacional não sejam tão facilmente esquecidos.

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